domingo, 8 de dezembro de 2019

Imaculada Conceição de Maria


Eis aqui a Serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua Palavra!
 
Ouvi! Ouvi vós atentamente!
É barulho de festa e de alegria. Na casa de Ana nascer-nos-á uma menina, nascer-nos-á a Nova Mulher. Escutai! É a Criação inteira que rejubila pela aurora de um novo tempo: É o Kayrós; o tempo esperado, a realização da Promessa irrompe na história, Deus decidiu restaurar na carne daquela Mulher o que, pela força da carne e pelo engano da vil serpente, fora outrora corrompido. Até mesmo «os Anjos, proclama S. Anselmo, regozijam-se ao ver restaurada a sua cidade quase em ruínas».
A Imaculada Conceição de Maria é o Advento da nova criação que realiza-se por intermédio do Fruto Bendito de seu abençoado e puríssimo ventre. O dobrar dos sinos anunciando os primeiros tempos deste que é «O Tempo», abrem espaço à ação maravilhosa da Graça de Deus, comunicam a alegria que este mistério realiza na história de toda a Criação. No ventre de Ana, Deus prepara uma criatura nova, «singela, doce e pura». Rompe-se a cadeia que ligava de modo perverso todas as criaturas; rompe-se o elo da vilania primeira que maculara a humanidade inteira e cuja herança maldita tocava cada nascido de mulher, os degredados filhos de Eva.
Exilados de nossa pátria primeira, estranhados do jardim onde floresceu a Vida e onde o amor transborda e corre regando cada criatura que d’Ele emerge, esperávamos e desejávamos ansiosamente voltar. O Deus de Misericórdia põe em Maria a chave de amor e pureza que permite à humanidade inteira reencontrar o caminho da Terra distante mas nunca esquecida. De fato, cada homem e cada mulher carrega, desde o dia fatídico e nebuloso da expulsão, no mais profundo de sua alma, uma saudade inexplicável, uma sede de plenitude e de Graça misteriosa e insaciável: é sede de Deus; é sede do Céu; é sede de ser outra vez Amor e Comunhão. Na terra bendita da vida de Maria, Deus faz brotar as torrentes de suas delícias; a água viva que sacia toda sede; a Porta aberta para que todos retornem ao alegre convívio divino.
A Palavra, o Verbo através do qual o Pai tudo Criou escolhe desde a Eternidade o ventre Bendito de Maria como sua morada pelos séculos. De fato qual filho não habita para sempre o coração da Mãe e qual mãe não faz de sua vida refúgio e proteção para seus filhos? Tanto mais, Aquele que é gerado e amado eternamente pelo Pai, faria daquela que escolhera por mãe o tabernáculo puro e santíssimo onde pode ser encontrado, amado e adorado para sempre.
A união de Maria com a Palavra não se dá somente pelo SIM que abre as portas à encarnação do Redentor, mas desde sempre a Palavra a preparou como Púlpito da Divindade. Deus de cuja misericordiosa vontade tudo provém e a cuja omnisciência nada escapa deixou semeada na obra de suas mãos uma semente de remissão que haveria de brotar e florir no tempo oportuno para que o Salvador irrompesse e redimisse a Criação inteira da mácula primeira.
Na Terra humilde e árida do ventre de Ana, sob o olhar amoroso e zeloso de Joaquim, neste dia Santo e bendito, uma flor formosa desabrocha e exala seu perfume inebriante sobre toda a criação. Toda feita de amor. Toda querida no Amor e pelo Amor. Maria é con
cebida sem mancha, sem mácula, sem pecado. Soubera Deus que aquela criatura é, dentre todas, singular; incomparável em beleza e perfeição; inigualável em santidade e justiça; incomparável em fidelidade e confiança. Senhora da Esperança; Refúgio dos Pecadores; Consoladora dos Aflitos; Saúde dos Enfermos; Auxílio dos Cristãos; Castelo Bendito onde habita para Sempre o Rei dos reis.
Neste dia de Sua Imaculada Conceição, um raio de luz invade e afugenta as trevas que reinaram por séculos e séculos, causando terror e medo no coração dos homens e mulheres de todos os tempos; uma força de esperança e vida alegra o coração da humanidade inteira: está próxima a Salvação; o jugo que pesa sobre os filhos de Eva foi finalmente quebrado; a espada apontada sobre os filhos dos homens será vergada e destruída pela fidelidade desta humilde criatura. A opressão e a humilhação serão extintas. O Amor se tornará a Lei. A comunhão será o anseio mais profundo de cada coração a pulsar sobre a face da Terra. Os aflitos encontrarão consolo; os desolados, abrigo; nela todos temos uma advogada imbatível; defensora invencível dos pequenos e últimos; sublime Senhora que a todos ama e a todos defende como Mãe e Rainha.
Vinde Senhora a esta gente que te ama e por ti sente-se profundamente amada. Vinde Rainha da Igreja sobretudo aos corações que, desolados, clamam pelo teu patrocínio. Volvei, Senhora, o teu olhar para aqueles que estão ocultos ao prepotente e arrogante olhar dos homens. Vinde quebrar as portas, derrubar as barreiras que nos separam de teu Filho. Ajuda-nos Maria a redescobrir a beleza e a glória da santidade de vida; renova Senhora nossa, a vida da Igreja.
Neste dia bendito em que comemoramos a tua Imaculada Conceição, imploramos-te, nós que peregrinamos neste vale de lágrimas, sede nosso socorro e ajudai-nos a alcançar as torrentes da Salvação que jorram do coração aberto de Teu Filho. Reuni, Senhora, num só povo, todas as raças e nações, todos os povos e línguas; não exista, entre os teus filhos, a divisão e o ódio, a separação e exclusão que matam o corpo e acorrentam a alma. Correi ao encontro de cada aflito e comunicai-lhe a Palavra cuja vida ainda pulsa no teu ventre de Mulher e Mãe. Amém.

Pe. Antonio Edson Bantim Oliveira
08 de dezembro de 2019
(Homilia da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, em Mauriti-CE)

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Maria: A nova Eva!


A Virgem Maria é a realização de diversas figuras do Antigo Testamento. A primeira delas é Eva, a Mulher original, imagem de toda mulher, mãe de toda a humanidade segundo a carne. A Eva é concedido o dom da Maternidade Universal, é a mãe dos viventes. Eva é a companheira de Adão, para que este não viva na solidão. Deus a abençoou, contemporaneamente, com a pureza e a fecundidade. Deu-lhe o dom do amor e da ternura feminina para que semeasse no coração da humanidade que haveria de gerar, a capacidade do cuidado e do afeto que é própria do Pastor Eterno.
Eva, porém, deixa-se seduzir pela serpente enganadora. Permite que a beleza do fruto da perdição exerça atração aos seus olhos; permite que a voz maliciosa e sibilante de Satanás contamine os seus ouvidos; permite que a aparente doçura do fruto maldito seduza o seu paladar; permite que a vaidade, o orgulho e o desejo de poder e conhecimento seduzissem o seu coração e a sua mente levando-a a desobedecer ao Senhor e, junto com Adão, a conduzir todos os seus filhos à desobediência e à morte.
Maria, Mãe de Jesus, restaura o que sua predecessora maculou. Também como Eva, Maria é criatura do Amor de Deus que a preparou e a fez Imaculada, sem mancha nem ruga, coroada de beleza e esplendor. Maria é imagem de toda mulher que se permite deixar tocar pelo Criador, que abre o seu coração e a sua mente ao sopro regenerador do Espírito Divino. A ela, Mãe de Jesus, também é concedido o dom da Pureza e da Maternidade Universal. Do seu ventre bendito nascem os novos filhos de Deus em Cristo. É a primeira e maior intercessora. É companheira dos discípulos de Cristo no caminho para a casa do Pai, para que os filhos de Deus nunca se sintam sozinhos. Seu amor e sua ternura de mulher são as qualidades da Mãe do Bom Pastor, da divina pastora, Mãe das mães, Mulher bendita entre todas e para abençoar a todas com suas virtudes de bondade e amor.
É o Fruto bendito de Maria quem esmaga definitivamente a cabeça da serpente enganadora, que ao Criador aprouve subjugar aos seus pés. Ao contrário de Eva, Maria é colocada no deserto: lugar de solidão e desolação. Ela não se deixa confundir pelo mal, seu coração não se perturba diante das insídias do maligno. Seus olhos, seus ouvidos, sua boca, sua mente e seu coração então voltados unicamente para o Seu Senhor. Vive no silêncio de uma intimidade sem igual com Deus; tudo medita em seu sacratíssimo coração, pois confia plenamente no seu Senhor e não se deixa enganar por Satanás. Seu SIM corrige o não de nossos primeiros pais e abre a porta para a restauração da comunhão de amor entre Deus e a Humanidade.
É diante da cruz que revela-se, em todo esplendor, a sua inacreditável fidelidade. A desobediência de Eva que se alimenta do fruto da perdição é, então, reparada pela obediência de Maria, cujo fruto bendito se torna alimento de Salvação eterna para a humanidade inteira. De pé diante da cruz, com o coração traspassado de dor, não vacila em seu Amor, não abandona a sua esperança e se torna para toda a humanidade um sinal e um exemplo de confiança plena em Deus. A fragilidade da primeira mulher é corrigida pela coragem e força da Nova Eva, a mãe d’O Vivente, d’Aquele que dá a Vida e que é a Luz dos Homens. Pomos uma coroa humana sobre a sua cabeça porque primeiro o Criador a coroou de todas as mais altas virtudes humanas e a revestiu com o Manto Bendito de sua Divina Graça. A nova Eva nos recorda que a obediência e a fidelidade nos renova e nos insere na multidão dos filhos e filhas de Maria, irmãos e irmãs de Jesus. Sua presença no nosso caminho de cristãos nos lembra que o Amor é superior à dor, que a Luz de Cristo já superou a escuridão do maligno. Que cada um de nós que em lágrimas ou em sorrisos recorremos à Santa Mãe de Deus e nossa se sinta cuidado e amado. Alimentemos em nosso coração o desejo ardente de imitá-la em sua humildade obediente e em sua fidelidade confiante. Amém!


Pe. Antonio Edson Bantim Oliveira
31 de maio de 2019
(Mangualde-Portugal)

sexta-feira, 29 de março de 2019

Mons. Manuel Alves Feitosa, Requiescat In Pace!


“Se tivéssemos fé, veríamos Deus oculto no sacerdote, como a luz por trás da vidraça, como a água misturada no vinho.” (S. João Maria Vianney)
Das mãos do Mons. Manuel Feitosa recebi, pela primeira vez, o Corpo e o Sangue do Senhor; foi ele quem, em fevereiro de 1998, enviou-me ao seminário e foi ele quem, em dezembro de 2006, acolheu-me como sacerdote para viver as primícias do meu ministério. Sua simplicidade não obscurecia a sua tenacidade e sabedoria. Homem forte, de convicções claras, não se permitia anuviar-se em meio a névoas de meias palavras e atitudes instáveis. Seguro de sua fé era capaz de inspirar-nos a crer com clareza e determinação. Podia-se, sem dúvida alguma, ver Deus oculto em seu sacerdócio. Sou grato ao Senhor por tê-lo tido como pároco por mais de vinte anos e como irmão no sacerdócio. Nossa diocese perde mais um ilustre membro de seu presbitério. Um dos poucos remanescentes dos tempos de sacerdotes imbuídos de profunda e perspicaz cultura humana conjugada com intensa sensibilidade espiritual. Deus, que o convocou para compor a fileira de seus ilustres ministros, acolha-o no número de seus Eleitos e conceda-lhe a alegria da Bem-aventurada visão de Sua Sagrada Face. A nós fica-nos o seu exemplo e o dever de empenharmo-nos no testemunho fiel do Evangelho em tempos de tribulação e de renúncia à Verdade que é Caminho para a Vida em plenitude. Requiescat In Pace!


Pe. Edson Bantim